24 de abril de 2009

Vitorina

Os “pardais” eram crianças desgrenhadas, descalças e com fome. Crianças que mostravam na sua cara a dureza da vida e que cedo viveram rodeadas com os problemas do alcoolismo, com a violência doméstica diária, com o desemprego. Crianças que unicamente conheciam o lado negro da vida. Crianças que não tiveram infância. Fui colega de uma “pardala”, partilhamos os bancos da escola primária e recordo-me sempre do seu olhar vivo, um olhar esperto e intenso, com um sorriso sempre matreiro nos lábios, sempre satisfeita com a vida. Naquela altura vivia ao pé do posto de polícia e lembro-me as vezes em que via a mãe a entrar no posto com a cara esfolada a deitar sangue, seguida por uma trupe de filhos e do chilrear na rua. Sempre que hoje volto e encontro-me com ela na rua fala-me com a mesma intensidade na voz e olha-me com aquele olhar vivo e sempre contente com a vida....Vitorina é o seu nome e é uma lição para aqueles que vivem com aquilo que a vida lhes deu, que seguem em frente sem ter com quem contar….

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